Estas foram algumas das frases ditas pelo ex-jogador Daniel Alves.
Ela o seguiu até o banheiro masculino. Ela se colocou em risco. Ela procurou.
O quê?
Ela procurou? Ela é culpada?
Ouço diversas pessoas opinarem no sentido de que de alguma forma a vítima é culpada, porque ela é mulher. Ela tem que se cuidar. Ela tem que ser mais reservada. Ela tem que alongar a saia. Ela tem que diminuir o decote.
Por que?
Porque permitimos que a supremacia masculina prevaleça sobre a liberdade de mulher. Culpamos a vítima, e não o homem “de família” que estava numa boate aquele horário, e que assume que deixou sua esposa em casa dormindo para flertar com outras mulheres. Ele tem no mínimo um caráter duvidoso.
Até quando permitiremos que a mulher seja a culpada por um ato ilícito que o responsável é o praticante?
É interessante a forma que a sociedade visualiza isso.
Eu escrevo histórias que convergem neste ponto da supremacia masculina prevalecer sobre a mulher.
E neste livro, o qual comentei em outra Newsletter, conta a história distópica. Descrevo uma sociedade na qual a mulher é um objeto. Eles sentem tanta liberdade de achar que podem dominar, que a mulher é um produto para ser usado quando eles quiserem. A ficção é a realidade.
E mais, o que leva homens de sucesso como Daniel Alves e o Robinho, bem apessoados, ligados ao esporte, atividade que prega companheirismo, respeito e honra, a pensarem que podem fazer algo com a mulher sem o seu consentimento?
Isso é uma tristeza na alma, imoral, e é CRIME.
Quando uma mulher se veste ou se comporta de determinada maneira, flerta com um homem, ou ainda, entra num banheiro masculino, ela está dando o direito a ele de usá-la como um objeto?
Claro que não.
Isso não dá o direito a ele de lhe causar um dano físico e psicológico.
E entendam, porque escrevo exatamente nesta posição, vítima da violência masculina, o dano causado quebra a essência. Tira sua coragem, sua vontade de viver. Tira sua confiança nas pessoas. Esmaga a sua auto estima.
O Não dado com medo e insegurança é um NÃO.
Ah, mas você não reagiu?
O medo causa estagnação. Você pode ser violentada por anos e não fazer nada.
Porque?
Por que a sociedade incute na sua mente desde de pequena que a culpa é sua por usar roupas curtas, e sua devido ao seu corpo em formação da mulher, e sua porque você não tomou cuidado por onde andou.
Me perguntei durante anos, enquanto recolhia os meus cacos, será que a culpa foi minha realmente? E acredito que muitas mulheres ainda se perguntam, será que eu tive culpa?
Será que o fato de ser homem dá o direito de usá-la como objeto?
Se sociedade entendesse a dor desse ato destruidor que invade a mulher, seja ela adulta ou uma menina de onze anos, cuidaria mais das nossas meninas.
Independentemente se for num bar a noite ou mesmo um homem mais velho do seu convívio, vizinho por exemplo, a devastação física e psicológica é intensa.
O ato ilícito deixa a mulher em pedaços que, talvez, ela nunca mais consiga reconstruir, e se o fizer serão cheios de cicatrizes. Podendo ela se tornar outro ser humano todo quebrado, danificado, ou incompleto.
Até quando vamos permitir situações como estas.
Até quando vamos lidar com essas situações.
Até quando vamos achar normal
Ou ainda, CULPAR A VÍTIMA.
Entendam, ela foi VÍTIMA, independente da forma que ela tenha agido.
Talvez ela tenha paralizado, e saibam, que se esse medo paralizante chegar, podem acreditar no que eu digo, não conseguimos fazer nada.
Esse medo acompanha pela vida, deixando a sensação que não saímos daquele momento.
Então acreditem quando digo, que até hoje quando lembro desse medo os meus olhos marejam porque sei que algo foi quebrado e não será reconstruído.
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